janeiro 30, 2009

05 NOVAS DESCOBERTAS - PARTE III

Na Holanda

Estamos na segunda quinzena de abril, Primavera, a viagem para Rotterdam vai ser agradável, os dias de mais Sol convidativos à contemplação dos caminhos .
Não paramos em Vitória, entramos em San Sebastián, na Bahia de la Concha , Mar Atlântico , a área central da cidade de ruas geométricas, o centro comercial mais importante se estendendo ao longo da Avenida de la Libertad . É noite, ficamos num Hotel antigo, alguma imponência , caro.

Os Pirinéus nos parecem agora diferentes, menos fantasmagóricos, a luz clara da manhã , sem a névoa da chuva e o trabalho do limpa pára - brisas tirando a sujeira dos vidros, deixa ver os altos paredões que ladeiam a estrada e observar à distância a altura enorme das montanhas. Os Pirinéus são uma fronteira natural entre a Espanha e a França, ao longo de 450 Km do Atlântico ao Mar Mediterrâneo , com dezenas de picos acima dos 3000 metros, grande parte deles coberta de neve nas suas partes altas, poucos locais de passagem entre os dois países, o que sempre lhe deu certo ar de misticismo e de aventura.

Passamos por Biarritz , famosa estância balnear , sudoeste da França , elogiada por Victor Hugo , com o seu farol no cume da falésia Saint Martin , quase 80 metros acima das águas, ponto de referência para as embarcações que demandam o Golfo de Gascogne e visível desde a descida dos Pirinéus ; o Rochedo da Virgem , com acesso por difícil passarela metálica e de onde se pode ver toda a costa ; o Cassino , na orla da praia, arquitetura geométrica , linear ; as construções de defesa militar da 2 ª Grande Guerra.

Vamos na direção de Paris, em direção ao Vale do Loire , Poitiers , Tours , Orleans .

O Rio Loire é o mais importante da França , 1000 Km , nasce nos Alpes e vem de Sul para Norte até Orleans, onde inflete para Leste , passa por Tours , direção ao Atlântico em Saint - Nazaire , no seu estuário; é fronteira natural entre o Norte e o Sul da França, proporcionando riqueza a todas as cidades de suas margens pelo transporte fluvial , em grandes embarcações de fundo chato e vela quadrada , capazes de ir contra a correnteza graças aos ventos dominantes do Oeste .
É a região das grandes batalhas , contra os Árabes - Batalha de Poitiers , de Carlos Martel – ou da Guerra dos Cem Anos contra os ingleses , de Jeanne D´Arc. Também dos magníficos Castelos da Renascença , Igrejas e Abadias , dos deslumbrantes Jardins , que se observam a cada ponto da viagem , na saída de uma curva ou topo de uma subida mais íngreme .

< Não tem como fugir do clichê : o Vale do Loire é mesmo um cenário de contos de fada! Há mais castelos por aqui que em qualquer outro canto do Mundo, com tudo a que têm direito: torres imponentes, muralhas, pontes levadiças... Foi nesta região que os nobres franceses renascentistas, repletos de idéias e do espírito humanista que veio com o fim da Idade das Trevas, optaram por elevar suas imensas moradas. São construções de diferentes períodos e estilos que abrigam em comum uma dose de romantismo e história que dificilmente outro lugar consegue equiparar.
Orléans, com suas fachadas do Século 16, a maioria reconstruída depois da Segunda Guerra, é a cidade onde a heroína Jeanne d'Arc salvou a França dos ingleses em 1429. Seus habitantes não se esquecem disso e a homenageiam todo final de abril e começo de maio com encenações da libertação. Ali fica também a Maison Jeanne d'Arc, museu criado no lugar onde ela se hospedou e que abriga toda a história da mártir. Outros pontos a se visitar são o Museu de Belas Artes, na place Sainte-Croix, com obras francesas dos Séculos 15 ao 20, e a Catedral de Sainte-Croix, bem próxima ao museu, reconstruída em estilo gótico entre os Séculos 17 e 19 .
Margeando o Rio Loire ,depois de exatos 57 quilômetros chegamos a Blois. Foi nessa pequena cidade, repleta de íngremes ladeiras, que os soberanos franceses fizeram morada. O Château de Blois abrigou reis e rainhas até Henrique IV transferir a corte para Paris em 1598 . Muito próximo a Blois (apenas 16 quilômetros) está um dos castelos mais impressionantes da rota: o Château Chambord. Seus 440 ambientes e 365 chaminés tiveram sua construção iniciada em 1519. Acredita-se que muitos dos desenhos em suas paredes e abóbadas e a estrutura da Grande Escada em dupla espiral sejam de Da Vinci .
De volta à estrada, mais 34 quilômetros e chegamos a Amboise. No caminho, aproveite para conhecer os restaurantes e caves instalados dentro de cavernas na encosta que acompanha a rodovia. Também reserve um bom tempo para visitar o Castelo de Chaumont-sur-Loire, de 1510, e apreciar a bela vista do vale. Em Amboise, descubra o castelo que fica em sua parte central e que já foi moradia de Luís XI e Carlos VII e visitado constantemente por Francisco I e Catarina de Médici. Na cidade, encontra-se o Clos-Lucé, museu em honra à genialidade de Leonardo da Vinci, com maquetes de suas invenções, erguido onde o mestre das artes e ciências passou os três últimos anos de sua vida.
Nos arredores da cidade, não deixe de visitar o pagode de Chanteloup, um pavilhão construído pelo duque de Choiseul no Século 18, com sete andares, 44 metros de altura, e formas excêntricas inspiradas na arquitetura chinesa. Outro destino imperdível é o Château Chenonceau. Erigido por mulheres aristocráticas em plena Renascença, entre elas Catarina de Médici e Luísa de Lorena, esposa de Henrique III, o castelo, que quase foi destruído durante a Revolução Francesa, é grandioso tanto por fora quanto por dentro.
Rumo a Azay-le-Rideau, a 50 quilômetros de Amboise, chega-se à região de Vouvray, com seus deliciosos vinhos brancos, e à cidade de Tours, com excelentes bares, lojas e restaurantes, além de uma bela catedral do Século 13. Ali, a praça Plumereau concentra toda a agitação. Em Azay-le-Rideau, conheça um dos mais belos jardins da França no Château Villandry, concluído em 1536. Para coroar o fim da viagem, rode 48 quilômetros até a cidade de Saumour e suba até o alto da colina para apreciar seu encantador castelo do Século 14, moradia de Luís I >

Os olhos se deslumbram , os corações se aquecem pelo esplendor da atividade humana que ressalta por cada canto , as lojas de beira de estrada são charmosas , se enquadram naquele ambiente de mágica, a vontade é de ficar ali , sentado numa mesa apreciando as delícias da cozinha que nos oferecem, esquecer que temos a Holanda , de lembrança não tão boa, fria e feia .
Seguimos até Versailles, é noite avançada , procuramos um Hotel , o cansaço não parece existir , o restaurante é pequeno mas agradável , o cardápio delicioso, como o vinho e os queijos. Tomamos o café da manhã em mesa ao ar livre, varanda batida pelo Sol, lá para cima a paisagem deslumbrante dos Jardins de Versailles . São 700 hectares de parques, envolvendo o Palácio que foi centro do poder do Antigo Regime na França, um dos maiores do Mundo, de construção iniciada por Luis XIV na metade do Século XVII , residência oficial dos Reis da França até à Revolução Francesa , 1790.
A grandiosidade do Chateau de Versailles , 700 quartos ! , 2000 janelas ! , é a apologia do Poder Absoluto – L´État c´est moi ! – mas é hoje, ultrapassadas as condições de vida miseráveis do povo francês que o levaram à tomada da Bastilha e aos atos sequentes da Revolução , uma demonstração ímpar e magnífica da genialidade humana .
Rodamos para Bruxelas , vamos para o Hotel Atlanta , nosso conhecido na Adolphe Max .
Saímos para encontrar mais uma vez a Grand – Place e aqueles restaurantes da cidade velha. Descemos pequena escadaria, entramos num restaurante de frutos do mar, poucas mesas, apertado ; os mexilhões que vieram em caçarola amassada por muitos anos de trabalho estavam deliciosos . Esticada até ao Hotel , paramos num bar próximo, mais um café, pensamento no dia seguinte da chegada a Rotterdam e conhecimento de novos desafios. Na mesa ao lado , dois jovens conversam. De repente , entrando pela porta quase em frente , policiais de armas em punho cercam aquela mesa dos jovens - não se mexam ! - rápidamente os revistam , retiram armas de um deles, quase os arrancam da mesa fortemente dominados, desaparecem para os carros lá fora ! Melhor ir para o Hotel !
Vamos para a fronteira , atravessamos um grande canal para chegar a Dordrecht , cidade holandesa quase na fronteira com a Bélgica . E começamos a observar como tudo é diferente de quando aqui estivemos , no Inverno ! Agora tem Sol , nenhum frio , não há vestígios daquela lama acinzentada pela cidade que agora está impecavelmente limpa, canteiros com flores se encontram por todo o lado , as pessoas vestem roupas alegres, coloridas, as mini – saias passam pelas ruas , andam nas bicicletas que surgem cruzando na nossa frente , as lojas têm as portas abertas em convite para entrar , atrativas, charmosas. Começamos a gostar da Holanda !
Vamos para Rotterdam , a sinalização é ótima, holandês e inglês, rapidamente estamos na Centraal Station, a Fábrica da Heineken é ali para a direita, na Isaac Hubert Straat .
Estamos na frente da Fábrica, aparência de muito antiga , compacta, pesada. Nos esperam , Monsieur L. fala francês, é o coordenador do Grupo para a implantação de Fábricas , nos encaminha para Monsieur St. que será o responsável pela Fábrica de Angola , também fala francês, como todo o pessoal da equipa dele por trabalharem para as Fábricas no ex - Congo Belga , com tempo de serviço por lá .
Temos reservas em Hotel por ali próximo , vamos colocar as malas , conhecer a cidade , amanhã volto para começar o estágio . As pessoas me pareceram simpáticas , atenciosas, embora muito formais, rígidas , não têm o calor dos latinos. Pode ser uma vantagem !
Surpresa , o Hotel é muito caro, estávamos acostumados com o de Louvain , cidade de estudantes, preços acessíveis, agora o Hotel tem movimento principal de turistas, não vamos ter as Les Almes para almoçar e jantar, não queremos gastar aquele salário recebido em Portugal . Vamos procurar Hotel mais barato , quem sabe alugar apartamento.
A Heineken era um grupo cervejeiro instalado na Holanda desde 1864, vinha de adquirir a concorrente no País , a Amstel , tinha parcerias com a Whitebread na Inglaterra , a Dreher na Itália e o Banque Lambert na Bélgica ( daquele Escritório donde eu vinha, lá em Bruxelas, na Chaussée de La Hulpe ) , Fábricas na Malásia , Indonésia, Egipto , ex – Congo Belga , Angola ( já tinham uma em Luanda , instalavam outra ) e iniciavam uma na África do Sul . Com uma Fábrica em Hertgenbosch ( Den Bosch ) , a 80 Km de Amsterdam , que era a segunda maior do Mundo , planejava construir uma moderníssima Fábrica em Zoetewoude , automatizada , para substituir a de Rotterdam, iniciada quase um século antes, 1874 , e apresentava planos para iniciar uma forte expansão na Europa . Um forte desenvolvimento tecnológico no fabrico da cerveja lhes dava grandes vantagens em relação aos seus concorrentes , além da habitual forte perspicácia holandesa no campo dos negócios - a guarda da cerveja , última etapa de fabricação, que para todos não demorava menos de 2 meses, a Heineken tinha encurtado para 21 dias e até 11 em alguns mercados ! Associada à automatização de algumas operações críticas do processo, essa vantagem permitia investimentos fabris menores , podendo a diferença em relação aos concorrentes ser alocada em maior agressividade comercial, que no caso da cerveja era essencial.

Dois aspetos ressaltam em Rotterdam , a cidade onde iríamos morar até ao final de julho. O primeiro, inquietante e assustador, o de ter sido o seu centro quase totalmente destruído pela aviação alemã na 2 ª Guerra Mundial , em demonstração dolorosa de ódio , irónicamente apenas o edifício do Hotel de Ville ( a Prefeitura ) ficou intacto ! Em torno desse edifício se reconstruiu a cidade , moderna, inovadora, bonita , espaços abertos, florida e elegante. Grandes lojas e shopings acentuam o ar de comércio da cidade , o Edifício Bijemkorf não tem janelas para não distrair os clientes ! Os restaurantes têm espaços abertos nas calçadas, mesas e chapéus de sol coloridos se juntam aos canteiros de flores . A cidade é de uma limpeza impressionante , o trânsito flui fácilmente, ordenado , sem as correrias das cidades belgas e francesas, pistas próprias para ciclistas , cheias em contínuo passar de gente que assim se desloca por toda a cidade , plana ; as pessoas vestem bem , as mini- saias, explosão da moda , dão um toque de imenso charme em corpos esguios de mulheres loiras, altas. O outro aspeto, a grandiosidade do seu porto de mar, o segundo maior do Mundo, o maior da Europa, dragado , aprofundado, construídos os seus cais pela colocação de milhares de blocos de cimento , uma obra prima do esforço de um povo.

« O porto de Rotterdam é também o mais importante da Europa. Existe desde o Século XIV (mais especificamente desde 1328), quando ainda era um pequeno porto para pesca situado no rio Rotte. Todavia, desenvolveu-se extraordinariamente a partir do século XIX, quando foi aberta uma conexão com o Mar do Norte, chamada de Nieuwe Waterweg, estabelecendo um importante canal de comunicação com a pujante e potente indústria alemã.
Todos os anos, cerca de 300 milhões de toneladas de mercadorias são por ali transportados. A área portuária e industrial cobre cerca de 10.500 hectares. Em torno de 30.000 navios /ano (82,2 /dia) deixam o porto e 130.000 ( 356/dia ) têm lá seu ponto de destino. Rotterdam faz parte de 500 linhas de tráfego de navios, que se conectam com cerca de outros mil portos. O porto também é o principal ponto para transporte de óleo, produtos químicos, containers, aço, carbono, comida e metais da Europa.
O calado do porto permite que os navios carreguem até 350 mil toneladas . Os maiores containers pesam em torno de sete mil toneladas e às vezes até mais. Em função desse intenso comércio de mercadorias, que vêm e vão de muitas partes do Mundo para esse centro de referência da Europa, é ali que se localizam as principais representações de importantes companhias de navegação. Existe um grande ponto para importação de frutas cítricas na Europa e vários pontos de distribuição de mercadorias asiáticas. Mas a maior área de concentração está reservada à indústria, principalmente a química e petroquímica. Algumas multinacionais têm ali importantes complexos industriais, produzindo mercadorias para toda Europa e, em alguns casos, para o Mundo inteiro. Os produtos de óleos e seus derivados, junto com os químicos, representam quase a metade das mercadorias transportadas pelo porto. Nada menos que cinco refinarias e várias indústrias químicas situam-se na área do porto; também a indústria do aço da Alemanha utiliza o porto para escoar quase toda sua imensa produção. Essas empresas utilizam e operam terminais próprios. O porto também é bastante utilizado para o comércio de produtos agrícolas, como grãos e rações para animais, fertilizantes e alimentos para a população, como carne, peixes, grãos, frutas, vegetais e sucos »

A parte velha da cidade , preservada , é magnífica !

« Se você está em Rotterdam e quer conhecer a arquitetura típica holandesa, da época medieval, não pense duas vezes antes de visitar Delfshaven. A origem desse lugar é histórica, pois nem sempre pertenceu à cidade de Rotterdam. No século X, a região de Delft, que dista cerca de 30 km de Rotterdam, precisava de acesso marítimo, e por isso foi construído um porto, chamado de Delfshaven . Com o tempo, Rotterdam foi crescendo e acabou englobando o que antes era o porto de Delft. A arquitetura do lugar ainda é a mesma do século XVII, com ruas em ladrilhos, uma antiga fábrica, igreja com relógio de sol e um moinho.
Quem visita Delfshaven se sente em outra época. Apesar dos diversos restaurantes, pubs e teatros em volta dos canais, esse pequeno porto ainda guarda ares do Século XVII. Num dos pubs é possível provar cerveja de fabricação local, a Pilgrins. O nome remonta a peregrinos, que ali moravam anteriormente. Quando a Holanda era domínio espanhol (e, portanto, cristã) , os anglicanos de Rotterdam viram-se obrigados a recuar para Delft, onde morava Josué Robinson, mentor da religião na Holanda; depois, migraram para os Estados Unidos. Atualmente, em homenagem aos peregrinos que deixaram a Holanda, a cerveja Pilgrins é sómente fabricada e vendida ali em Delftshaven »

Só faltava resolver o problema da acomodação , aquele Hotel era caro demais ! Pergunto na Fábrica como resolver , me indicam uma Loja de atendimento para quem quer alugar casa ou apartamento , me explicam , na Holanda isso faz parte das atribuições do Estado , o País é pequeno , muito populoso , as pessoas têm de ser direcionadas a áreas habitacionais compatíveis com as suas necessidades reais, não pode haver desperdício do espaço , socializado ! Vou nessa Loja, centro da cidade, logo me atende uma moça simpática , fala um pouco de francês, bem o inglês. Explico o que quero , consulta uma listagem , se propõe ir comigo mostrar , de imediato ! Fecha a Loja e vamos para Schiedam , são 8 km até a Fábrica, quase linha reta, ótima avenida . A casa é de um casal de idade , agradáveis , querem alugar a parte de baixo , um quarto e uma sala , pequenos mas ambos com janela para a rua, dá bem para nós, tem um espaço interior que serve de cozinha , minúscula, com fogão e geladeira , porta para a rua ; mas não tem banheiro próprio , só no andar de cima , subir as escadas, é pequeno como todo o resto, terá uso comum. O aluguel ? 300 Florins ! Que bom, penso , ganho ali na Holanda 2200 , vai sobrar para os nossos passeios !
Íamos ficar ali , na Nieuwe Damlaan , 712, Schiedam, até ao fim do estágio.
Schiedam é uma pequena cidade integrada a Rotterdam, à beira do Rio Nieuwe Maas , capital da genebra holandesa , conta com os maiores moinhos do Mundo , com armazéns impressionantes e com elegantes casas de comerciantes , testemunhas de uma rica história de destiladores . O centro da cidade é a Koemarkt Place , onde está o Hotel de Ville ( Prefeitura ) , edifício de estilo gótico de meados do Século XVI .
Genebra - Gin - é uma bebida alcoólica de graduação podendo chegar a 60º que teve origem ali em Schiedam , obtida à base de cevada e cereais , que depois de destilada se aromatiza com bagas de zimbro e outras ervas aromatizantes ( o zimbro tem propriedades medicinais, para infeções urinárias ) .
Na Fábrica , os trabalhos começavam de forma desalentadora ! Aulas teóricas sobre fabricação de cerveja para um grupo de jovens que estariam em treinamento para fábricas no Ex – Congo Belga , talvez para funções de coordenação , e eu ali, vindo de Louvain, aluno daquele Prof. De Clerck ! Não tinha nada para aprender, desagradável me manifestar entediado , tento mostrar interesse , o que é difícil, a qualidade das informações é muito superficial. Eu vinha à procura de completar a minha formação profissional com esclarecimentos sobre as tecnologias da fábrica em Angola para onde eu ia, quais equipamentos, características, condições de operação, manutenção , enfim aquilo que me iria dar condições de desempenho das funções de Diretor Técnico . Melhor despreocupar e apreciar o lado bom , tem tanto que fazer lá fora !
Com a acomodação resolvida , barata, funcional e agradável , sem necessidade de me dedicar em casa aos estudos , eu ia virar turista na Holanda ! Que magníficos 3 meses !
Com os colegas daquele desmotivante curso tinha um belga que seguiria depois para Kinghasa , no ex – Congo Belga, ele natural dessa colónia , estava em treinamento para ascender a novos cargos . Casado com uma senhora francesa , da região de Lille , me conta sobre os problemas que por lá havia passado , na independência, ainda criança, refugiado em localidade acima de Kinghasa
Um dos processos mais sangrentos de independência aconteceu no Congo Belga, depois chamado de Zaire, o segundo maior país africano em extensão territorial, depois do Sudão. O antigo Congo havia sido um presente da Conferência de Berlim ao Rei Leopoldo II, da Bélgica, em 1885. Um presente e tanto: um vasto território rico em cobalto, ferro, potássio e diamantes.
Até 1908, o Congo era tratado como propriedade pessoal do rei Leopoldo. Só naquele ano tornou-se uma colônia da Bélgica. Com tantas riquezas naturais à disposição, os belgas resistiram com uma forte repressão ao movimento de independência do Congo. A luta dos nacionalistas fez nascer um novo líder negro na África :

Uma Manhã no Coração da África

Durante mil anos tu, negro, sofreste como um animal
tuas cinzas foram espalhadas ao vento do deserto.
Teus tiranos construíram os templos mágicos e brilhantes,
onde preservam o teu sofrimento:
o bárbaro direito dos punhos e o direito branco ao chicote.
Tu tinhas direito de morrer, também podias chorar
Enquanto rompes tuas cadeias, os grilhões pesados
os templos malvados e cruéis irão para não voltar mais.
Um Congo livre e bravo surgirá da alma negra,
um Congo livre e bravo, o florescer negro, a semente negra
Patrice Lumumba

A luta pela independência no Congo Belga ganhou intensidade em meados dos anos 50. Em 1958, no Congresso Pan-africano, o líder nacionalista Patrice Lumumba faria um discurso anticolonialista que lhe daria prestígio e fortaleceria a causa de seu País. Os confrontos entre nativos e colonos belgas se intensificaram até a conquista definitiva da independência, em junho de 1960.

Conflitos entre o novo governo e províncias separatistas, no entanto, fizeram Lumumba, já no cargo de primeiro-ministro, pedir a intervenção militar da ONU e da União Soviética. Em setembro de 60, Lumumba foi afastado do cargo e preso, por ordem do presidente Joseph Kasavubu. Em fevereiro de 61, o governo anunciou oficialmente sua morte. Patrice Lumumba recebeu homenagens da União Soviética, que batizou com o nome dele uma universidade em Moscou destinada a alunos estrangeiros. Iniciativas desse tipo faziam parte da luta ideológica da Guerra Fria.

Em 1971, sob o governo de Joseph Mobutu, o Congo Belga passou a se chamar Zaire.
Esse belga, sofredor como eu daquelas aulas , passaria a ser companheiro dos meus dias na Fábrica , ele falava um pouco de flamand , o que ajudava às vezes na compreensão do holandês, eu aprendia melhor o meu francês com ele ; descobríamos Rotterdam em torno da Fábrica , nas horas de almoço, onde comprar pão , queijos, latas de sardinhas ou atum , frutas , cerveja, para ir comer em algum jardim não muito longe dali, nos bancos das praças ou deitados na grama – que em Portugal era proibido pisar ! - , depois, com o melhor conhecimento da Fábrica, nos terraços dos telhados , localização privilegiada para ver a cidade e , extasiados quando descobrimos , as holandesas que de bikini aproveitavam o Sol da tarde no curto período de almoço para se bronzear ! Também , para me divertir no Citroen 2 CV que ele tinha, carro exótico , 435 cm³ , 26 CV ( os 2 eram de potência fiscal , na França ! ) , velocidade máxima de 102 Km /hora, volante de um só raio , alavanca de câmbio saindo perpendicularmente do painel

« Seus assentos eram em tecido rústico mas confortáveis, a suspensão elástica. O teto corrediço de pano podia ser todo aberto, para carregar volumes mais altos dentro da carroceria ou para aproveitar o sol quando aparecesse no verão europeu. O interior tinha o mínimo necessário; o painel tinha poucos botões e mostradores.
Sua suspensão não poderia ser mais original. Era independente nas quatro rodas, por meio de braços "empurrados" na frente e arrastados atrás, com uma grande mola helicoidal unindo os braços de um mesmo lado. A mola funcionava por expansão e não por contração. Os amortecedores eram ainda mais singulares, consistindo de um cilindro contendo um peso na extremidade de cada braço. Esse peso, ou massa, "batia" dentro do cilindro em meio a um fluido, controlando as oscilações da suspensão. Era chamado, por isso mesmo, de batteur, batedor. Funcionava muito bem.
Outras particularidades do 2CV eram o limpador movimentado a partir do cabo do velocímetro -- maior a velocidade, mais rápida a varrida da água da chuva -- e os freios dianteiros junto à transmissão, em que o freio de estacionamento atuava nas rodas motrizes dianteiras »

Tinha a vantagem de ser muito econômico e de o seu formato e velocidade serem adequados à observação da paisagem em volta , particularmente das mini – saias !
A primeira viagem de fim de semana por aquela surpreendente e maravilhosa Holanda – que diferença da Holanda de Inverno que nós havíamos visto ! – foi na direção de Amsterdam , olhos atentos a toda a beleza da paisagem e das cidades . Paramos um pouco mais à frente de Rotterdam , 20 Km , Delft , cheia de canais , de edifícios antigos , históricos , muros de defesa , um grande lago com pequenas praias ; vamos percorrer o mercado , festival de cores, de cerâmicas , de queijos, do magnífico Queijo Gouda que ali vemos pela primeira vez , produzido na vizinha cidade de Gouda – é um queijo de leite de vaca, casca lisa, vermelha , de massa semi - cozida e consistência semi - - dura, cremosa e gorda , de cor amarelo – escura , sabor suave , frutado e doce , permeada por diversos furos pequenos, ovais , lisos ; apresentado em grandes discos cilindricos de 20 quilos, se espalha pelo mercado . E tem os tamancos de madeira , todas as cores !

Continuamos para Norte , passamos por Leiden e vamos até Lisse , procuramos o Parque de Keukenhof.
Deparamos na chegada com carros de todas as nacionalidades, enchendo os locais de estacionamento , centenas de visitantes, de máquinas fotográficas e de filmar a tiracolo , às vezes grandes máquinas , profissionais, atarefados mas todos com sorriso aberto de deslumbramento . Compramos as entradas , 3 Florins cada e entramos. Com a minha máquina de filmar , eu não sabia o que fazer ! Filmar , guardar para sempre aquelas maravilhas ou apenas me extasiar passeando entre dezenas de canteiros de tulipas, cada canteiro uma variedade diferente, uma cor diferente , as ruas de saibro entre eles em divisões geométricas , transportando o olhar de uma para outra surpresa ! O Parque Keukenhof ocupa 32 hectares , 86 canteiros de maravilhosas cores , tulipas e narcisos , 17 esculturas espalhadas entre eles , vindas de Museus em todo o Mundo . No catálogo informam 610 variedades de tulipas ali presentes ! Com nomes como General MacArthur, General Patton, Greta Garbo, Henry Ford, John Steinbeck, Madonna, Mantovani , Perry Como , President Kennedy, Einstein, Scarlet O´Hara ! Também no catálogo , 72 variedades de narcisos !

« Segundo a maioria das referências, as tulipas são turcas e foram levadas para a Holanda por volta de 1560, depois que o botânico Conrad von Gesner as catalogou em 1559, usando bulbos originais coletados em Constantinopla, atual Istambul. O nome da flor foi inspirado na palavra "tulipan" que significa "turbante" (o formato da tulipa lembra mesmo um turbante). Outras referências defendem que as tulipas são originárias da China, de onde foram levadas para as montanhas do Cáucaso e Pérsia.
Chinesas ou turcas, o fato é que elas se tornaram uma paixão para os holandeses e essa paixão pelas tulipas foi tanta que gerou até uma especulação financeira envolvendo os bulbos desta planta.
Na Holanda, os bulbos encontraram terras férteis e ideais para o seu cultivo, além de um povo que simplesmente amava flores. O entusiasmo pela tulipa gerou o desenvolvimento de muitas variedades com diferentes tamanhos e cores. Por volta de 1620, algumas variedades chegavam a um grau de raridade tão grande, que uma única flor alcançava preços elevadíssimos . No verão, época do plantio, já se negociavam os bulbos que iam florescer na primavera seguinte – cerca de um ano depois. O papel que representava a propriedade de um bulbo ainda por florir podia passar, em poucas semanas, de 20 florins para 255 florins, ou de 90 para 900 florins. A situação tornou-se tão crítica, que o governo holandês teve de intervir para acabar com a especulação.
Planta da família das Liliáceas, a tulipa produz folhas que podem ser oblongas, ovais ou lanceoladas (em forma de lança). Do centro da folhagem surge uma haste ereta, com uma flor solitária formada por seis pétalas. Cores e formas são bem variadas. Existem muitas variedades cultivadas e milhares de híbridos em diversas cores, tons matizados, pontas picotadas, etc. »

Inaugurado em 1950, Keukenhof recebe mais de 10 milhões de visitantes no período de dois meses em que está aberto, abril e maio. Keukenhof é certamente um dos parques florais mais magníficos do Mundo, certamente a maior e mais bela homenagem à Primavera , que com ele renasce em cada ano.
Eu tinha feito dois filmes , mas mais do que com eles a recordação desse Parque iria ficar para sempre em lugar de destaque na minha memória .

Parece que Keukenhof quer dizer literalmente « cozinha de jardim » ! A cozinha do restaurante do Parque não era tão famosa, bem pelo contrário ....

Voltamos para Rotterdam , desviando para Den Haag , na direção da costa . Den Haag , S´Gravenhage , La Haya, é uma cidade cosmopolita , capital administrativa da Holanda , cidade de embaixadas e ministérios , local de residência da Familia Real . Internacionalmente é reconhecida como a capital internacional da Justiça , depois de Nova Iorque e Genebra é a 3 ª cidade da ONU no Mundo , com a Corte Internacional de Justiça . Den Haag tem mais de 700 jardins públicos ! Saindo da cidade, encontramos outra maravilha – a cidade miniatura de Madurodam . Inaugurada em 1952 pela Família Maduro em homenagem ao filho que havia morrido na guerra, era um grande parque , reproduzindo à escala 1:25 tudo o que uma grande cidade possui – edifícios de perfeita reprodução arquitetônica , hotéis, feiras, canais, aeroportos, rodovias ,etc. além de grandes edificações do próprio País . Mas não era uma simples reprodução estática, diversos conjuntos animados visuais e sonoros funcionavam ali, como carros nas rodovias, trens, movimentação nos aeroportos, anúncios de chegada e partida de aviões , estádio de futebol com torcida, barcos, desfiles militares , desvio de nível de rios , com a movimentação dos barcos, comportas ! A vegetação era viva , de bonzais ! Nós , os visitantes , podíamos passear sobre a cidade por cima de passarelas metálicas , aéreas, ou em calçadas próprias para o público . Era certamente um dos pontos turísticos mais visitados do País e uma das «cidades » mais célebres !

Tão grande como a paixão dos holandeses por tulipas , era a paixão por comer batatas fritas pela rua , vendidas em inúmeros carrinhos espalhados pelas cidades ; e tinha também carrinhos que vendiam arenques , crus, que eles comiam erguendo o peixe acima da boca e chupando – o , só sobrava a espinha com a cabeça na ponta ! Os arenques são pequenos peixes gordurosos, que vivem em cardumes que chegam na Primavera às águas rasas do Mar do Norte , consumidos quase sempre salgados e defumados ; ou crus com cebola picada e pepino.
Claro , eu tinha de ser levado pelos holandeses da Fábrica a um desses carrinhos para comer arenque cru ! Não ter comido era o mesmo que não ter estado na Holanda ! Não comi !

A culinária holandesa tinha como ingrediente principal a batata , acompanhada geralmente de legumes e vegetais cozidos . Além do arenque, as refeições tradicionais se compunham de enguias defumadas , sopa de ervilhas, repolho crocante com batatas e salsichas defumadas, queijos ( Gouda e Edammer , este o queijo esfera , exterior vermelho , interior amarelo claro , sabor ligeiramente salgado ) , leite - o consumo de laticínios era em geral muito grande - , bolo com passas, panquecas, wafles com creme de chantilly , bolinhos de farinha frita coberta de açucar, bolo de bacon , chocolate ( a vida dos holandeses seria impossível sem a presença do chocolate , Amsterdam tinha os maiores armazéns de cacau do Mundo ) , torta de maçã com creme de chantilly , cervejas Heinehen e Amstel , café - os holandeses eram , depois dos escandinavos , os maiores consumidores de café do Mundo ! Mas não o café de máquina , expresso, mas grandes xícaras de café aguado que só era tragável com uns pingos de concentrado de leite !

Enquanto que o almoço era bastante frugal – para não perder tempo no dia de trabalho ! na Fábrica tínhamos 25 minutos para ir até ao Restaurante e voltar ! – com base em sanduíches , crepes, leite, café - , o café da manhã era opulento ! Qualquer coisa podia ser servida, mas adoravam iniciar pelo Bife Tártaro

200 gramas de filé-mignon
1 colher (sopa) de azeite
1 colher (sopa) de alcaparras
1 colher (chá) de molho inglês
2 colher (sopa) de cebola picada
½ colher de páprica
gotas de tabasco
3 gemas pequenas
2 filés de anchovas
sal e pimenta-do-reino
pepino em conserva

Cortar o filé em escalopes finos e picar finamente com uma faca bem afiada. Picar bem as alcaparras e cebola. Colocar a carne picada em uma tigela, acrescentar a cebola e alcaparras, uma gema e misturar. Adicionar o molho inglês, tabasco, sal, pimenta-do-reino, salsinha e páprica. Misturar muito bem. Dividir a carne no formato de 2 bolas e colocar uma em cada prato. Achatar um pouco e fazer pequeno buraco no centro, colocar uma gema em cada bolo de carne. Salpicar com um pouco de sal e páprica. Servir imediatamente acompanhado de torradas de pão de centeio e pepinos em conserva .

Sempre que tive de fazer o café da manhã com pessoal da Fábrica , me recusei a comer isso !

O jantar era a refeição principal , entre as 18 e as 20 horas , a maioria dos restaurantes fechava ás 22 horas ( a hora a que abriam na Espanha ! ) .
Mein Frau Graca ! Era a senhora da casa em que morávamos chamando a Tininha ! O casal era muito simpático e embora só com algumas palavras de inglês , poucas de espanhol e muitas demonstrações com as mãos, íamos conhecendo a vida deles e eles se interessando pela comida que a Tininha fazia cá em baixo naquela minúscula cozinha e cheirava tão bem ! Tinham tido 11 filhos , só 8 estavam vivos, 2 tinham ido para os Estados Unidos . O senhor contava das dificuldades da Guerra, da sorte dele em ela ter terminado quando estava para embarcar em navio que o levaria para o campo de batalha, das dificuldades que os holandeses tinham passado , do horror de não ter o que comer , muitos holandeses morrendo por serem incapazes de comer cães , gatos, ratos ! Manhã bem cedo o senhor saía de casa , cana de pesca na mão , apetrechos numa caixinha , se dirigia para um dos muitos canais ou para o Porto ali próximo , ia pescar . À tarde , invariavelmente voltava sem peixe algum ! Que só pescava para passar o tempo, os peixes que pescava devolvia ao mar !
A Holanda era sede da Philips , na cidade de Eindhoven , eu me deslumbrava com tanta aparelhagem , demonstrada em belíssimas salas de música . Mas comprei Pioneer ! rádio e toca discos, e passei então a grande comprador de discos , que eram oferecidos nos supermercados, em portas de lojas , baratissimos, dava para comprar e escolher os bons, rejeitar os outros ! Eu não entendia nada de holandês ....!
Na Fábrica , eu e meu colega belga somos enviados para Amsterdam , para uma Fábrica que tinha sido da Amstel, para acompanharmos os processos de fabricação de levedura e as análises microbiológicas . Desperdício de tempo , depois de Louvain - comecei a pensar que os holandeses da Heineken achavam que só eles sabiam fazer cerveja , não os belgas , então vamos ensinar tudo desde o princípio ! - mas ótimo para conhecermos a cidade , íamos e vínhamos todos os dias, no meu carro ou no 2CV dele . O tempo já estava quente , o Sol apertava , as mini–saias andavam por todo o lado , Amsterdam tinha no seu comportamento social a influência dos Hippies que anos antes tinham aterrorizado a cidade e se espalhavam ainda , acampavam , saudosistas , na mais famosa praça da cidade , a Damrak , rodeada de edifícios dos Séculos XVI e XVII , e no grande parque Amsterdamse Bos , com 800 hectares .

« O Movimento Hippie terá tido sua origem a partir dos beatniks, representados por escritores como Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William Burroughs. Estes, influenciados por Ezra Pound, mesclaram ensinamentos zen com rebeldia e viveram à margem do Sistema, apesar de não o terem confrontado diretamente. Seu ideal era o de viajar pelo Mundo adquirindo toda forma de experiência que caracterizasse seu estilo de vida, principalmente aventuras sexuais, noites de bebedeiras com amigos e poetas, experimentos com drogas e aprendizados budistas.
Os primeiros a transpor a liberdade beatnik para um esforço de transformação da Sociedade foram os chamados Provos, de Amsterdam, que podem ser considerados os fundadores da Contracultura. Em vez do famoso “drop out” beat, insistiram em permanecer em sua cidade e de fato conseguiram transformá-la. A palavra “provos” deriva de “provocadores”, batizados assim por um relatório policial e aceito espontaneamente pelos referidos. Trata-se de um pequeno grupo, por volta de duzentas pessoas em seu auge, que atuou de forma intensa e subversiva entre julho de 1965 e maio de 1967. Sob influência do dadaísmo e de outras tendências artísticas, porém sem nunca se definir como movimento de arte, os provos se valiam de happenings para defender a legalização das drogas, a liberdade sexual, a liberdade de expressão, questões ecológicas e o boicote ao consumismo.
Em nenhum momento o grupo se apresentou como um movimento artístico, no entanto é evidente que eles tinham conhecimento da performance como meio, e a utilizaram de maneira lúdica a fim de chamar a atenção para seus objetivos. Na festa nacional para o aniversário da rainha, organizaram uma série de manifestações: eleição da Miss Provo, maratona ao redor do Palácio Real com bicicletas brancas , “torneio de lançamento de ovos, manteiga e queijo entre Provos e polícia”, “demonstração de ar fresco”, competição de tiros de bombas de efeito moral, concurso de pintura no asfalto, jogo de futebol com laranjas, transformação do principal chafariz da cidade em um chafariz de laranjada, lançamento de uma estátua de baleia branca em um dos canais da cidade.
Os provos tinham seu jornal, onde discutiam questões raciais, feminismo, liberação sexual e legalização das drogas. Seguidores dos provos caminhavam em bando sobre automóveis e sabotavam escapamentos, por considerarem os carros poluentes e assassinos. Lançaram bombas de gás de efeito moral sobre a carruagem real, humilhando o casal de Princípes no dia de seu casamento - devido às ligações do Princípe com o nazismo na Segunda Guerra. Elegeram um vereador e zombaram do poder .
Por fim, em 1967 , os provos conquistam alguns de seus principais objetivos. A própria Coroa holandesa, depois de perceber que a repressão policial não surtia efeito - os provos resistiam pacificamente a pancadarias semanais em todos seus encontros - sentiu-se obrigada a rever sua intolerância.
É por isso que hoje Amsterdam conta com zonas em que o consumo de drogas é legalizado. Também podemos contar como vitória dos provos uma maior tolerância para as questões raciais e feministas em sua cidade e, por boa parte da sociedade holandesa, a aceitação da liberação sexual, além do fim da apreensão de jornais de mídia underground, ou seja, liberdade de expressão.
Em 13 de maio de 1967 , Provos dissolve-se em festa, por estarem “cansados de bancar a entidade oficial de provocação” e para não se tornarem previsíveis, ainda que muitos de seus membros continuassem a atuar em transformações da sociedade, porém de outras maneiras. Por exemplo, um dos destinos mais comuns de ex-provos foi ingressar em lutas por causas ambientais »

Com mais de mil anos de história , Amsterdam tinha começado por ser uma vila de pescadores , ganhando prosperidade pelo comércio e a fabricação de cerveja, depois com a Companhia das Índias Orientais , no Século XVII , monopolista das atividades comerciais na Ásia.

« A Companhia das Índias Orientais foi criada em 1602, quando os Estados Gerais dos Países Baixos lhe concederam o monopólio das atividades coloniais na Ásia. Foi a primeira companhia multinacional do mundo e a primeira companhia a emitir ações. Os métodos que usava para manter o monopólio incluíam a repressão violenta da população nativa, a extorsão e o assassinato em massa. Em 1669, era considerada a companhia mais rica que o mundo jamais viu, com mais de 150 navios de mercadorias, 40 navios de guerra, 50.000 empregados e um exército privado de 10.000 soldados, pagando 40% em dividendos. A Companhia estabeleceu o seu quartel general em Batávia na ilha de Java (a atual Jakarta na Indonésia) criando outros postos coloniais nas Molucas onde mantinha à força o monopólio da noz moscada e outras especiarias. Das minas espanholas do Peru vinha a prata que, juntamente com o cobre do Japão, era trocada pelos têxteis e porcelanas da Índia e da China. O único posto em que se mantinha uma paz relativa era Dejima, uma ilha artificial ao largo da costa de Nagasaki que foi, durante muito tempo, o único lugar em que os europeus podiam negociar com o Japão. Em 1652 foi estabelecido o posto do Cabo da Boa Esperança (a atual cidade do Cabo) para abastecimento dos navios de passagem para o Oriente, existindo outros na Pérsia, Bengala, Ceilão, Malaca, Sião, Cantão, Formosa e Índia Meridional »

Amsterdam é a cidade dos canais , ao longo dos quais cresceu e prosperou ! Os 165 canais a dividem em 90 ilhas unidas entre si por 1281 pontes , o dobro de canais e pontes de Veneza. Há cerca de 3000 casas flutuantes ancoradas ao longo dos diversos canais, algumas são restaurantes, até hotéis. Há quase 7000 prédios dos Séculos XV ao XVIII espalhados pela cidade , quase todos bem conservados. Da população de 700.000 habitantes , 1/3 é estrangeira , 140 nacionalidades ; 400.000 bicicletas circulam na cidade , 2 bicicletas para cada automóvel. Amsterdam é a capital da Holanda mas não a sede do Governo.
A Centraal Station , a estação central de trens, é a porta de entrada de Amsterdam , formoso monumento arquitetônico não - renascentista do Século XIX . A rua em frente é a Damrak , a mais famosa da cidade , um caleidoscópio de cores e frenética atividade que vai até à Dam ( Praça do Dique ) . Esta é o ponto de encontro de estudantes ,turistas, artistas de rua e pombos. Um grande número de carrinhos vende comida . Na Damrak o comércio é variado , bancos, pubs, restaurantes, hotéis, antiquários, lojas de departamentos, fast foods, cinemas, tabacarias, livrarias , o Museu do Sexo e o Museu da Tortura. No meio da quadra , o prédio da Bolsa de Valores; logo em seguida a De Bijenkorf , a maior e mais luxuosa loja de departamentos de Amsterdam . Em frente a ela, outra praça, está o Museu de Cera de Madame Tussaud. No fim da Dam está um memorial aos holandeses mortos na 2ª Guerra Mundial e do lado oposto o Koninnklijk Paleis, o Palácio Real , residência da Rainha , construído em 1609 , com seus alicerces apoiados em milhares de pilares de madeira por causa da natureza pantanosa do terreno .
A cidade continua ao longo dos seus canais , as ruas se encostam neles , por todo o lado árvores frondosas permitem uma sombra agradável ; as águas das fontes servem para alguém se refrescar , descalço dentro delas, os parques são locais de descanso de casais , deitados, às vezes em situações duvidosas . A vida cultural da cidade é intensa – 42 Museus, a Holanda tem a maior concentração de Museus do Mundo - Museu Nacional Rijksmuseum (com obras de arte, casas de bonecas, artesanato, tapetes, objetos coloniais ) , Stdelijk Museum , Museu de Van Gogh ( 200 pinturas desse pintor e outras de pintores dele contemporâneos, Toulouse – Lautrec, Gauguin, Monet ) , Casa de Rembrandt, Amsterdam Historisch Museum, Casa de Anne Frank . Tudo se completa com flores , muitas flores !
Amsterdam é também chamada a cidade dos diamantes , muitos ateliers mostram todo o processo de corte e preparação dessa pedra.
Os edifícios de estilo neo-clássico e neo-renascentista apresentam ornamentações características , são estreitos , escadas apertadas , íngremes, os móveis são transportados por fora dos edifícios para os andares, paus de carga em cada topo, cordas e roldanas, servem a esse fim. Nos canais gente descansa nos seus barcos, lê , pinta, alguns procuram pescar . A cidade se completa por uma miríade de bicicletas que se desloca em ciclovias , cruza as ruas , com sinalização própria, alegra os olhos com a passagem das mini- saias descuidadas.
Combinamos, em viagem para aquela Fábrica da Amstel , a Tininha e a mulher do meu colega vêm também , ficam pela cidade , à tarde retornamos a Rotterdam . Elas ficaram pela Rembrandt Plein, nós fomos para a Amstel , gastar tempo. Aquela senhora , francesa de Lille , tem um sotaque difícil, a Tininha se esforça por a entender , visitam Igrejas – uma delas, invadida por hippies , deitados , alguns drogados, paredes sujas de inscrições – , entram no Rijksmuseum , passam por área de cabarets, se entusiasmam, querem entrar à noite, nos convidam . Fomos . Ambiente alegre , sem cantos escuros, pessoas que faziam dali um simples bar , passagem de horas, espetáculos de strip - tease, as moças são elegantes , se despem ali no palco quase jogado para cima das mesas , ninguém olha mais que uns segundos, ficam nuas, poucos olhares, o ambiente permanece calmo, sossegado , apenas relaxante !
Outra viagem , manhã , quase chegada à Amstel, grande alvoroço na rua lá para a frente do carro, mulheres que vão às compras se viram , falam , apontam , vejo carro da polícia chegando , diversos policiais cercam um homem de cor negra, rapidamente o levam para o carro – o homem, grande , novo, se passeava nu pela rua, as mulheres se divertiam com o inesperado , olhavam , comentavam !
Outra ocasião, eu e meu colega , centro de Amsterdam , hora de almoço, saem de um cabaret – fechado , só abriria à noite – duas mulheres altas, elegantíssimas , quase roupas nenhumas, calmamente pela rua, talvez indo para casa ou indo fazer compras. O espetáculo é chamativo, provocativo ; a rua cheia de homens , que vão , que cruzam , ninguém presta mais do que superficial atenção , não há retorno de cabeças, olhares esguios, uma palavra dirigida ! O único que se mexe sou eu , corro para dar a volta à rua , poder aparecer de frente para o espetáculo e tirar uma foto do momento , interferindo o mínimo possível na monotonia daqueles holandeses.
Fiquei convencido, do povo holandês só o homem tem comportamento frio , não ligado às coisas do pecado capital ! As mulheres , não !
Chegaram os dois filmes que fiz em Keukenhof ! Tenho projetor,mesmo na parede da sala , branca, acessórios para cortar e colar os filmes. Me preparo e .....surpresa ! Os dois estão pretos , não têm nada, ficaram queimados ! Com a ansiedade , e inexperiência , coloquei mal as cassetes no dispositivo da máquina de filmar.

Voltei a Keukenhof logo no final de semana , para assistir à destruição daquela maravilha, a maior parte dos canteiros já sem plantas, outros de flores esmorecidas, poucos em condições razoáveis de filmar ! Todo aquele Parque é levantado ao final de maio, para ser replantado no ano seguinte e oferecer de novo deslumbrante homenagem à Primavera !

Amsterdam oferecia várias experiências novas e fascinantes aos turistas como eu, nascidos em regime opressivo e determinado pela imposição de ditames da Igreja Católica – De Wallen , no coração de uma das áreas mais antigas da cidade , vários quarteirões separados por muitos canais a Sul da Igreja Oude Kerk , a maior e mais antiga da cidade, oferecia em várias de suas ruas a maior atração turística de Amsterdam – o Rossebuurt, Red Light District , zona de meretrício mais famosa da cidade , existindo ali desde o Século XIV ! Bordéis , sex- shops , museus, bares gays, cinemas e teatros voltados para o sexo, misturados com lojas peculiares, pubs, restaurantes, hotéis, tudo isso acolhe multidões de turistas , e não só , sob as luzes encarnadas que iluminam os canais e a música que sai para o ar aqui e ali , num ambiente de liberalidade e tolerância que é o orgulho da cidade , demonstrado pelas famílias locais que por ali transitam , até parando em alguns locais , mães com suas filhas em atitudes de tranqüilidade que fazem com que o local pareça exteriormente como outro qualquer ! Durante o dia a intensidade das atividades também existe, mas menor, que se intensifica entre as 11 da noite até as 2 – 3 horas da madrugada, quando tudo fecha rotinadamente . Os prédios têm características especiais, pequenos , quarto de porta e janela com cortina , mulheres de todas as nacionalidades nas janelas, debruçadas , ou nas portas, em pé , vestidas atrativamente , atentas educadamente ao movimento de passantes , cortinas das janelas abertas ; ou cortinas fechadas quando recebem a sua visita !

De Schiedam para Rotterdam , diáriamente eu fazia esses 8 Km no Kadett, bastantes faróis de trânsito , passagens de pedestres. Numa dessas paradas , belo dia , quase dois meses de rotina, uma policial , alta ,elegante, quepe na cabeça , me faz sinal para encostar, me pede os documentos – em inglês – revira - os , dá a volta , abre a porta direita do carro , entra e me manda dirigir em frente . Assim , nada mais ! Eu fui, claro , surpreso mas obediente . Chego numa praça logo ali , ela me indica para estacionar, desligar as chaves , entregar – lhe ! Eu entrego, vou fazer o quê ?! Saímos do carro, ela me indica a entrada de um prédio, é uma Delegacia , entramos , seguimos para um elevador tipo caixote sem portas, subimos, não sabia para qual andar, paramos, ela me indica o caminho , eu vou , entro numa sala , ela fecha a porta de grades de ferro , cadeado – estou numa cela ! Tem um tosco banco de madeira , fico ali, fumando , não pensando nada ! Pensar o quê ?! Eu não tinha feito nada ..... a Justiça na Holanda tinha que ter a cara do País, honesta , decente !
Esperei quase uma hora ! Começava a pensar que pelo menos teria direito a uma chamada de telefone, um advogado ! Durante a viagem com a policial eu tinha dito onde trabalhava , com quem , aonde .
Finalmente a policial abre a porta .....e me pede desculpas , me leva para a mesa dela, me explica que pensou que eu não poderia ter o carro ali na Holanda sem trocar de placa , que se informou , estava errada, desculpe !
Assim ! Bem , descubro que ela fala inglês, espanhol , francês, além do holandês é claro ! Me aconselha a efetuar registro na Delegacia de Schiedam , me diz onde é, telefona para me atenderem depois de almoço.


Vou para casa e depois do almoço sigo para a tal Delegacia com a Tininha . Nos atendem corretamente , atenciosos , perguntam até que data ficamos na Holanda, põem visto de autorização nos passaportes.

Viajar de carro pela Holanda era um enorme prazer ! As estradas eram excelentes, com sinalização muito boa , eficiente , o trânsito fluía seguro , as localidades se sucediam , por vezes grandes áreas agrícolas, nenhum desperdício de terra por cultivar, animais que pastavam como que pintando aqueles cenários , enormes estufas cobertas de plástico para uso agrícola , de tons coloridos, a certeza de que qualquer problema com o carro seria resolvido, a liberdade segura de poder estar ali sem a inquietação de intromissões , o horizonte plano que deixava que o olhar se perdesse na distância e , sobretudo , o fascinante colorido das flores que se multiplicavam nos jardins das casas , nos canteiros das estradas e nos contornos do arvoredo , iluminadas pelo Sol em contrastes de tonalidades surpreendentes. Tudo isso nos levava a querer conhecer mais e melhor aquele País , em que o esforço do Homem se demonstrava de forma tão clara, no domínio de uma Natureza que tinha sido difícil e agora se moldava em cenários maravilhosos.

« Certo dia Deus enviou três emissários à Terra, a fim de verificar a sua situação. No seu retorno, dois deles puderam relatar somente desgraças, fome, pestes, guerras, crimes etc., enquanto o terceiro reportou-se, com entusiasmo, ao que havia presenciado: paz, saúde e amor.
- Onde você esteve? quis saber o Todo Poderoso.
- Na Holanda, respondeu o espião celestial.
- Ora! exclamou Deus, desapontado, você esteve no único lugar que eu não criei..»


Saíamos de Rotterdam para encontrar a costa do Atlântico , de areias grossas, mar em permanente agitação , nas regiões abertas de Rockanje ou Hoek von Holland, na praia sofisticada de Scheveningen , de magnífico cassino e com um extenso cais de lojas e restaurantes ao ar livre e um píer mar adentro que abrigava um centro comercial e , na ponta , um Farol do alto do qual a paisagem da costa se afirmava deslumbrante, vento marítimo soprando em constante desafio de equilíbrio que nos remetia em seguida para um aconchegante almoço no restaurante na parte baixa do píer , o mar batendo direto nas paredes de sustentação ; e ainda descobrirmos surpresos, à saída , um grande Saloon do Far West com máquinas de jogar !
Subíamos para Leiden , a terra natal de Rembrant , cidade universitária onde sobressaiem fortificações e edifícios de séculos passados , que acumulam o peso da História nas suas fachadas , até Harlem , capital mundial da tulipa , ou para Gouda , do queijo gouda e da maior praça da Holanda , com o Mercado de Queijos e Artesanato , na qual encontraríamos , pelo meio das ruas apinhadas de gente , um desfile de grupos folclóricos holandeses e de vários paises da Europa Central , para me encontrar depois divertidamente no meio deles , filmando os movimentos e o colorido .
E de novo Amsterdam , que sempre nos surpreendia, na admiração dos seus canais, que nos chamava para um passeio de barco, ou até ao porto, que divide a cidade , e onde parávamos em algum restaurante , com a paisagem humana de todas as partes do Mundo cruzando na nossa frente.

A saída podia ser para Utrecht , cidade de rico comércio , silenciosa e tranquila, centro de negócios, cheia de antiquários e livrarias , pátios , cafés e monumentos , de belos edifícios junto ao cais. Onde , chegando tarde para almoço, entramos num restaurante japonês, todos os outros fechados , aquele vazio, só nós, procurando o que comer no cardápio difícil , pedimos dois pratos, um de camarão , outro de qualquer coisa , meio como surpresa . Chega o primeiro prato, o de camarão, excelente, não vamos comer tudo , melhor deixar apetite para o segundo . O garçom , de preto , cerimonioso , retira os pratos, ficamos esperando . O tempo passa, o garçom lá no canto nos olhando, talvez querendo fechar, nós esperando o tal segundo prato, tínhamos até guardado apetite para ele, aqueles camarões tinham sobrado , uma pena . Chamamos o garçom, já surpresos pela demora, restaurante tão fino, garçom tão atencioso ! E o segundo prato ? , nós perguntamos, apontando com o dedo para a escolha que tínhamos feito no cardápio ! Aí o mâitre vem ajudar o garçon , trazendo da cozinha os restos dos nossos pratos e apontando o dedo para a comida neles - este primeiro prato , este segundo ! Tinham vindo juntos, saímos depressa !

O estágio na Fábrica agora compreendia a assistência a fabricações experimentais de cerveja, de que não sabíamos para quê nem o porquê.
Apenas observar as etapas em pequenos volumes, qual jogo de crianças , passatempo longe daquilo que eu esperava buscar ali , na Heineken. Observava também que , embora delicados, corretos no trato , os holandeses pouco falavam , as ordens eram dadas de forma concisa , não explicada , até autoritária , para não perder tempo ou porque convencidos da sua certeza, era assim e imutável ; também a amabilidade não passava de limitada aos aspetos profissionais , pequenos e secos cumprimentos ao inicio, nada mais do que aquilo que fosse o objetivo de trabalho na relação com e entre os funcionários. A relação hierárquica era rígida, temida , obediente e respeitada ; o caminho profissional na empresa exigia a entrada pelas funções menores, o treinamento em cada uma delas, a ascensão progressiva por reconhecido mérito e uma contínua avaliação de desempenho que podia fazer perder a posição já alcançada - o medo de errar era grande , talvez daí a rigidez e a impermeabilidade das relações entre eles , que mais se observava ainda nas funções superiores , de gerência e diretoria.
Por outro lado , as diferenças de salários entre as diferentes categorias não explicava esse comportamento , as vantagens salariais de uma para outra eram pequenas e fortemente mais reduzidas pela carga tributária – um trabalhador recém admitido recebia na Heineken entre 900 a 1000 Florins ,a carga tributária era nula ou quase ,talvez só as taxas sindicais ; um diretor , responsável por atividades de empresas no exterior, recebia 3600 Florins, 2400 depois de pagar os impostos ! Ambos tinham do Governo as mesmas vantagens, escola, saúde , aposentadoria , de excelente qualidade , o que tornava o interesse pela ascensão profissional limitado a ter uma casa um pouco melhor (não muito ! ) , um melhor carro ( esse sim ! ), umas férias anuais mais divertidas e mais longe da Holanda , uma colocação dentro da empresa de maior prestígio , mas também de maior responsabilidade e mais estressante !
Eu recebia ali na Holanda 2200 Florins , tinha carro , viajava todos os fins de semana, comia fora, fazia compras – aqueles 900 a 1000 Florins não seriam um salário pobre. Conversando com funcionários na Amstel , em Amsterdam , que falavam razoável francês, me contavam que durante o período das férias , concentrado de julho a setembro , muitos jovens – hippies, de vida comunitária - vinham substituir aqueles que saíam para férias e nesses três meses recebiam o dinheiro com que viviam todo o ano ! Depois, alguns diretores me diriam que estava cada vez mais difícil encontrar na Holanda quem aceitasse funções de chefia, que esse problema se tornaria um sério caso se não fossem introduzidas mudanças ; para esses diretores , o grande sonho era o de poder trabalhar no exterior , nas fábricas da Heineken , estavam sendo feitos estudos de mercado para implantação da marca no Brasil, sonhavam com ser escolhidos !
Este último aspeto humano que me aparecia assim como surpresa , até me sendo dito de forma um pouco insinuosa , o fato de eu não ser oriundo da área de cervejas , numa indústria que tinha tanto de mistérios meio medievais, a exigência que parecia imprescindível da progressão na carreira e até o fato de eu ser português , de um País sem expressão industrial , poderiam justificar o pouco cuidado na elaboração do meu programa de estágio , começava eu a pensar .
Mas isso não me era preocupante , pensava que teria a Fábrica em Angola para me afirmar e aquele Verão tinha um Sol magnífico , num País que oferecia tanto por onde gastar os dias !

Os holandeses não tinham só a paixão das tulipas , dos arenques crus ! O futebol era jogado em todos os campos disponíveis das cidades , por craques que se julgavam equiparados ao Johan Cruyff , estrela vitoriosa do AFC Ajax, clube de Amsterdam que naquele ano se vinha afirmando na Copa dos Campeões , torneio englobando as equipas campeãs de futebol dos países europeus . Esse torneio já no ano anterior havia sido vencido por outra equipa holandesa, o Feyenoord , agora na temporada 1970/71 o Ajax havia derrotado o 17 Nëntori Tirana, o FC Basel e o Atlético de Madrid , para chegar à final contra o Panathinaikos , primeira equipa grega a chegar tão longe nesse torneio – para delírio dos holandeses em cada canto do País, o Ajax ganhou por 2 – 0 !
Fomos para as ruas de Rotterdam , até ao centro , achávamos que teria carnaval , o clube era de Amsterdam mas ali devia ter muitos adeptos. Desilusão, os holandeses limitavam a sua emoção ao acompanhamento do jogo , à leitura posterior dos jornais , talvez alguma conversa na mesa de um bar, bebendo cerveja e genebra , as ruas não seriam local para exteriorizar emoções !
Aproveitamos para passear numa área de jardins e restaurantes ao longo do Porto e visitar o Euromast , grande torre de 328 metros de altura , elevador interno, com plataforma superior em movimento contínuo giratório 360 º, com magnífico restaurante decorado com profusão multicolorida de flores, de onde se observava todo o movimento atarefado dos barcos , dos caminhões e guindastes nos cais e a cidade se espraiando no terreno plano dos dois lados do Porto . Num pavilhão à entrada do Porto, numa sala onde entramos, passava um filme – um funcionário explicava para os visitantes, em inglês, as fases de construção do Porto, suas tecnologias, os volumes de materiais , horas de trabalho, custos envolvidos, uma formidável demonstração da veracidade daquela anedota sobre o desapontamento de Deus !

O meu colega belga vai para Kinghasa , Zaire . Devia a ele não só o acompanhamento divertido dos dias monótonos na Fábrica , mas, principalmente , o treinamento do francês que me permitia já nessa altura falar regularmente, mesmo com alguns trejeitos copiados dele .
Eu vou continuar o estágio , acompanhando Análises de Laboratório , águas , matérias primas, cerveja , e mais tantas escapadas quantas possíveis ! Aproveito para copiar tudo o que posso, mexo nos papeis que encontro, reporto alguma coisa que me possa ser útil em Angola . A Heineken deveria ter já naqueles tempos um grande volume de funções e de processos padronizados , em manuais, em francês , para as fábricas em África, mas nada consigo de acesso , são guardados , não para olhos de estagiários ! Um dia , quem sabe , terei minha vingança !

Vou visitar a Fábrica de Den Bosh , a este de Rotterdam , menos de 100 quilómetros. Dizem que é a 2ª maior do Mundo , só menor do que uma na Austrália . Durante a viagem , uma das rodas do carro vibra , um carro que passa sinaliza, acho melhor deixá – lo para revisão numa oficina próxima à Fábrica .
Den Bosh era realmente impressionante , fugia ao contexto tradicional das fábricas de cerveja , de grandes cubas quadrangulares , quase sempre tampadas , alinhadas em filas paralelas dentro de enormes galpões fechados , com ar resfriado a temperaturas baixíssimas , ambiente úmido e chão escorregadio , pegajoso , onde se processava a fermentação e guarda da cerveja , durante meses até que fosse dada como pronta para o engarrafamento e consumo .
Den Bosh tinha substituído esses galpões por grandes cubas cilíndricas , altura de 21 metros, diâmetro de quase 6 , com refrigeração individual por água alcoolizada circulando pela parede dupla da cuba . O controle das temperaturas era muito mais fácil, o domínio das variações do teor de CO ² com a altura dentro da cuba estava sendo obtido , o tempo de guarda encurtado drasticamente através da escolha da qualidade da levedura – responsável pela fermentação e pelos teores de produtos indesejados na cerveja . As cubas assentavam em grandes pilares de concreto , ao ar livre , formando fileiras , fácil limpeza, custos reduzidos. Realmente a Heineken tinha o domínio de uma tecnologia que lhe seria de enorme handicap no ganho de mercados.

Volto para Rotterdam , tenho de passar naquela oficina para pegar o carro. É muito pequena , tem só um mecânico, deve ser o dono, bata branca, ambiente muito limpo, não é o padrão das oficinas que conheço . O carro está pronto, não era grande problema , me entrega – gratuito – um teste eletrônico dos motores, várias folhas de papel , gráficos ! Que grande Kadett ! Continuava com aqueles pneus de pregos , que levaria para Angola.

Os meus passeios de final de semana estavam - me levando cada vez mais longe. Às sextas – feiras saía da Fábrica logo que possível , 17,30 estava em Schiedam para colocar uma mala no carro , a Tininha, e partirmos para uma nova descoberta .
Os Moinhos fazem parte da paisagem holandesa ! Utilizados para retirar a água das chuvas dos terrenos alagados , funcionando como bomba de água , ou para moagem de grãos, eles apareciam por todo o País , uns 1000 moinhos originais ainda estavam lá ! À saída de Rotterdam , 15 Km , Kinderdijk apresentava o maior conjunto deles, 18 , construídos no Século XVIII.
Os diques e suas comportas, outra característica do País , esses permaneciam indispensáveis à integralidade do território e das vidas humanas, primeiro tendo servido para o isolamento de áreas que, em secando , viraram os polders, e depois segurando as invasões das águas do Mar do Norte que com as suas marés tudo alagavam e destruíam . Para proteção controlada , havia sido construído em 1933 no Norte o maior dique do País , 32 Km , o Afsluitdijk, literalmente dique de fecho , ligando Den Dever a Zurich na Frísia, 32 Km de auto-estrada a uma altura original de 7, 25 metros acima das águas do Mar , 90 metros de altura total . Numa daquelas viagens me propus visitá – lo .
Passando por Amsterdam se chegava 40 Km depois a Alkmaar , sulcada por canais numa zona relativamente pantanosa , com mais de 450 monumentos , produtora de queijos e manteiga , e mais 50 Km alcançava-se Den Helder . Aqui a Marinha holandesa tinha a sua base naval , submarinos estavam encostados no cais, áreas de entrada proíbida . A 20 km cheguei então a Den Dever , início do grande dique, um vento forte varrendo tudo e uma sensação de estar no topo do Mundo .

Entramos naquela auto - estrada sobre o Mar , sensação maravilhosa de liberdade e de estarmos integrados a uma obra que havia mudado as condições de vida dos holandeses , permitindo desfazer o medo das constantes invasões do Mar. Com ele e suas comportas , controlava-se o nível das águas do Ijsselmeer , que ficou como um grande lago de água salgada, onde se situava o Porto de Amsterdam na região a sudoeste.
Poucos quilômetros andados, deparamos com um monumento alusivo àquela construção, placas informativas e um pequeno restaurante dando para um mirante sobre o grande lago .
Paramos o carro, saímos, vamos olhar, descansar .
Regressamos ao carro, procuro as chaves , estavam lá dentro, portas trancadas ! Não tem problema, a Tininha tem na bolsa dela a segunda chave, anda lá exatamente para resolver um caso destes , somos prevenidos.
Mas a bolsa da Tininha está dentro do carro ! Com a emoção do momento naquele topo do Mundo , a Tininha nem se lembrou , deixou a bolsa ali , em cima do assento do carro !
Estamos mesmo no fim do Mundo , pouca gente passando, não tem oficinas ! Tento quebrar o vidro lateral , um quebra – vento , mas não tenho êxito. Vou tentar de novo, mais força, talvez com uma pedra .
Um carro pára atrás do meu, tento explicar a situação, um senhor sai do carro, abre o porta malas , retira um arame , não diz uma palavra, faz uma dobra na ponta, vem no meu carro , enfia pelo vidro lateral na direção do pino de travamento e .... porta aberta ! Ele vai embora, não diz uma palavra ! Tudo demorou menos de um minuto ! Aprendi e entendi como era fácil roubar um carro !

Chegamos a Zurich na outra ponta do dique, estamos na Província da Frísia, vamos até Leeuwarden – ponto mais ao Norte da Holanda que alcançamos, o mais próximo – e muito longe ainda ! - do Pólo Norte . Paralelo 5 º 78 !
Descemos no caminho de Amersfoort – onde durante a Guerra tinha sido instalado um campo nazista de concentração e execução – para daí alcançarmos Rotterdam . Estavamos em casa .

A Alemanha estava ali ao lado , a alemã Emmerich na fronteira , na margem do Rio Reno , a menos de 150 Km de Rotterdam ! Mais 100 Km, passando por Duisburg , se alcançava Düsseldorf, daqui para o Sul , mais 50 Km , se chegava a Koln ( Colônia ) ; de Düsseldorf para Este, mais 70 Km , estava-se em Dortmund .

O Rio Reno nasce nos Alpes suíços, atravessa a Europa de Sul a Norte para desaguar no Mar do Norte em enorme delta , no litoral holandês , misturando aí suas águas com as do Rio Mosa , Rotterdam numa das suas muitas margens . Ao longo do seu curso de 1300 Km marca a fronteira da Alemanha com a Suíça e com a França ; um amplo sistema de canais permite o acesso a partir do Reno a outros grandes cursos fluviais, como o Elba, o Danúbio, o Ródano e o Marne. O Oder determina a fronteira com a Polônia, o Danúbio passa pela Alemanha , Áustria, Hungria e Romênia . A densa malha de rios e canais navegáveis da Alemanha é um importante eixo de trânsito nas direções Leste – Oeste e Norte – Sul , tanto para o transporte de passageiros como de cargas – a malha hidroviária possui 7400 Km de extensão e é responsável pelo transporte de 20 % das mercadorias do País .
O Rio Ruhr , 200 Km , é um importante afluente do Reno , desaguando na sua margem direita , em Duisburg . Em seu vale - Vale do Ruhr - encontram –se grandes jazidas de carvão mineral e ferro, matérias primas de base para a indústria siderúrgica , que deram origem a grandes cidades industriais definindo um complexo de uma riqueza e valor estratégico ímpares na Europa.

Victor Hugo ( Le Rhin , 1842 ) afirmava « Toda a história da Europa está resumida neste Rio de guerreiros e de pensadores , nesta onda imensa que sacode a França , neste murmúrio profundo que faz sonhar a Alemanha . O Reno reúne tudo » .

Düsselfdorf na margem direita do Reno estava no coração dessa magnífica região do Vale do Ruhr. Próximo dela , numa gruta no vale do pequeno Rio Düssel ali confluente do Reno, foi encontrado o esqueleto do « Homem de Néanderthal » .
É uma cidade com 700 anos, com um enorme dinamismo moderno misturado a construções históricas . É a capital da moda alemã, centenas de empresas , bancos e companhias de seguros , estrangeiras . Boa parte do centro é área exclusiva de pedestres , a Altstadt , cheia de bares e restaurantes , ruas cobertas de mesas - consumo animado de cerveja, linguiças, salsichas , chouriço de sangue , batatas assadas e mostarda , forte - grandes lojas e butiques ; ali , a Avenida Königsallee é uma das passarelas mais elegantes da Europa . Do centro , sai um caminho de pedestres junto ao Reno até ao bairro antigo da cidade , o Kaiseswerth , com típicas construções do passado , passando por conjuntos de prédios históricos , Museus e Arquivos . Junto ao Reno , o Parque Hofgarten ,desenho antigo com diversas estátuas e esculturas , é um parque ideal para observar as grandes barcaças que passam pelo Reno e se afastam na curva ao longe.

Koln é a Catedral ! Um dos mais belos e importantes monumentos góticos da Europa , em torno do qual estão as mais movimentadas ruas comerciais e a Estação Central .
Dizem que Koln conta com mais de 3000 bares , restaurantes e cervejarias , o maior percentual por habitante na Alemanha .
Completamente destruída ao fim da 2ª Guerra Mundial, com exceção da Catedral, é uma moderna metrópole , maior porto fluvial alemão , rodeada por um cenário privilegiado de históricos castelos medievais e pequenas localidades antigas , entrecortados por extensos vinhedos. O Reno corta a cidade , com uma ponte ferroviária que o atravessa e que projeta um magnífico cenário com a visão da Catedral ao fundo.
É uma cidade elegante , que abriga periodicamente Feiras de projeção internacional .
Num dos dias de realização de uma dessas Feiras, nós chegamos à cidade , já mais de 21 horas , procuramos um hotel bem próximo à Catedral , todas as placas de trânsito nos tinham remetido àquele lugar . Entramos em vários hotéis , tudo lotado, não sabem onde haverá vaga , é a Feira , dizem. Passa um carro da Polícia, perguntamos, falam pelo rádio , também ninguém sabe de vaga em hotel , é a Feira !
Parados na praça, em pé ao lado do carro , tentando encontrar orientação para sairmos da cidade, passa um casal . Param , nos abordam. São de Angola, do Lobito , no Sul, ela tirita de frio , o pesado casaco de couro não consegue ser suficiente para quem está habituado ao calor de África . Também procuram hotel , estão ali em férias, não sabem o que fazer.
Atrás de nós encosta um carro . Um casal , são portugueses, trabalham na Alemanha, emigrantes, viram a placa do carro, saudades de Portugal, param para conversar. O problema do hotel está resolvido , de forma alguma aceitam uma recusa , vamos para casa deles , jantar e dormir !
Ele trabalhava na Marinha Grande , próximo a Leiria , na indústria vidreira , emigraram para a Alemanha fugindo das dificuldades de Portugal , como tantos outros o faziam , instalados em qualquer parte da Europa . Teve sorte , a arte dele com o vidro era apreciada ali na Alemanha ; e tinha descoberto uma outra fonte de renda, desmontar equipamentos apanhados em lixões para lhes retirar o cobre , vendido depois a bom preço .
Tinham uma boa casa , móveis simples mas confortáveis, os filhos estavam na escola, sentiam – se alemães, não voltariam a Portugal , só em férias .
Só saímos na manhã seguinte , noite dormida no chão da sala , café da manhã ali tomado com eles, orgulhosos de nos mostrarem o êxito de uma vida de trabalho, sofrida e corajosa .

A região do Vale do Reno é maravilhosa . Pelas estradas que 30 Km ao Sul nos levavam de Koln para Bonn , capital da Républica Federal Alemã, subíamos as montanhas que eram cruzadas pelo Reno, cá em baixo deslizando pelo vale, as encostas de arvoredos frondosos , abraçando aqui e ali casas apalaçadas de recortes belíssimos , em algum topo de uma montanha um castelo antigo , estilo medieval alemão , torres apontando ao céu , altivo guardador da Natureza que ali se manifestava em toda a sua imponência . De alguns restaurantes , encastrados na montanha , na passagem da estrada, se observavam , em maior pormenor e tranquilidade , os panoramas mais absorventes daquela beleza, que nós procurávamos guardar no recôndito da memória.

De Bonn para o Luxembourg – cerca de 250 Km – se seguia inicialmente pelo curso do Reno e depois pelo do Mosel , grande parte em ótimas auto - estradas , verdadeiras pistas de corrida em que os Porches , Mercedes e outros passavam voando pelo pobre Kadett .
Luxembourg é um pequeno País , belíssimo , encravado entre a Alemanha , a Bélgica e a França, um Grão – Ducado com regime parlamentar , menos de 500.000 habitantes , com o mais alto rendimento per capita do Mundo , resultado de indústrias siderúrgicas e químicas, mas principalmente da prestação de serviços bancários e financeiros internacionais .
Do Luxembourg para Bruxelas a estrada passava ao longo das Ardenas , uma região de colinas montanhosas , entre 350 e 500 metros , densas florestas, de pouca atividade agrícola, rica em minérios . É uma região de belas paisagens naturais, ótima para caçadas, caminhadas , ciclismo , canoagem e ski , no Inverno . Mas também campo de batalha frequente entre as potências européias , pela inacessibilidade , percurso preferido pelos alemães para rapidamente atingirem pontos fracos da defesa francesa e palco da última contra – ofensiva de Hitler na 2 ª Guerra Mundial . Ao longo do percurso , restos de tanques e cemitérios de combatentes lembram esse passo tresloucado da história do Homem .

« Aproximava-se o Natal de 1944, o quinto da Segunda Guerra Mundial. O pesado inverno europeu parecia cobrir com gelo, neve e nevoeiro, qualquer sinal de vida. Nada parecia mexer-se.

Os soldados anglo-americanos, acampados não muito longe da fronteira alemã, estavam à espera da chegada dos pacotes vindos de casa com agasalhos e enlatados que os fizessem esquecer os duros dias da guerra que tinham passado e os que ainda estavam por vir.

Então, na escura manhã do dia 16 de dezembro uma tormenta de fogo e aço desabou sobre eles. Começava a batalha de Ardenas, a derradeira contra-ofensiva de Hitler na Segunda Guerra Mundial.
A batalha de Ardenas, a batalha do Bolsão para os americanos, foi travada durante 35 dias do inverno de 1944 numa área que os alemães denominavam de Dreilaendereche (a esquina dos três países: Alemanha - Holanda – Bélgica). Caracterizou-se a contra-ofensiva alemã, pelo menos no seu começo, por ter provocado a mais completa surpresa nos aliados anglo-americanos
Até o dia 23 de dezembro o tempo ruim impediu a aviação aliada de entrar em ação. Os americanos enviaram suas divisões em socorro dos que estavam cercados em Bastogne em caminhões ou até mesmo a pé, em marcha forçada pela neve. Lá, o general Anthony McAuliffe, comandante da 101 Divisão Aerotransportada, que recebera a missão de manter Bastogne, apesar de sitiado por dez dias seguidos, negara-se a se render aos alemães, mandando-os "para o Inferno!".
Todavia, na véspera do Natal a situação da batalha mudou, o nevoeiro se foi e um céu aberto se fez presente. Logo a vantagem inicial alemã se evaporou. Milhares de aviões da USAF e da RAF entraram em ação. Nada o que se movia foi poupado.
No dia 18 de janeiro, 35 dias depois da batalha ter-se iniciado, ela encerrou-se oficialmente com o recuo do restante das tropas alemãs para a sua base original. Acumularam uma perda de 1/3 dos soldados, uns cem mil entre mortos e feridos, 800 tanques destruídos e mil aviões derrubados.
No total, 10.733 soldados americanos morreram, havendo ainda 42.316 feridos e 22.636 desaparecidos. Mais de dois mil veículos foram destruídos e 592 aviões foram abatidos.
Os ingleses, mesmo sendo pouco atingidos pela contra-ofensiva, acusaram a perda de 1.400 soldados, 38.600 feridos e 30.582 desaparecidos. As perdas materiais somaram 550 carros de combate, 5 mil veículos e mil aviões, havendo ainda perdas entre a população civil belga, uns 2.500 mortos e 11 mil feridos »

Ao longo destes acontecimentos, eu tinha 5 anos , quase 6 , estava na Ilha dos Açores , onde meu Pai esperava , provavelmente angustiado , que as tropas alemães não invadissem a Ilha . O percurso pelas Ardenas me fazia relembrar o passado , aqueles anos despreocupados da minha infância , o bom professor de minha escola, em contrapartida da augústia que ali naquelas florestas ainda repercutia nos destroços e cemitérios .

Final de julho, o estágio na Heineken terminou . Não gostei, provavelmente também não gostaram de mim . Em todo o tempo não recebi uma informação sobre a Fábrica em Angola, sobre as características dos equipamentos, o processo industrial , eventuais problemas ! Nesse aspecto, a Heineken revelava uma falha , fosse problema organizacional ou resultado de atritos internos – talvez outros querendo ocupar o cargo ! – que se extrapolada em geral lhe seria muito inconveniente no processo de expansão que estava iniciando na Europa e em África .
Na ultima reunião me informam que para a posta em marcha da Fábrica
irá um técnico da Fábrica de Kinghasa – Sr. E , português , há muitos anos no Zaire – e que ao início também estará Monsieur SL , técnico holandês especialista em tecnologia de fabricação e que depois será o supervisor e responsável perante a Heineken , assim como Monsieur VR será o supervisor e responsável perante a Heineken da tecnologia de equipamentos. Não tinha tido contato com nenhum deles , a situação minha era de surpresa , embora a presença desses técnicos ao start – up da Fábrica fosse na verdade indispensável porque em todo o tempo de estágio na Heineken eu não tivera nenhuma informação ! Eu estava disposto a participar desse jogo, na verdade já vencera desafios mais complicados e por outro, depois do entusiasmo de Louvain e daquela desilusão na Heineken , não me achava com cara de « cervejeiro » , eu era ainda um engenheiro metalúrgico, de uma indústria muito superior àquela em qualidade e dificuldades !
Mas eu tinha um sonho , o de África ! E isso me fez não desistir , querer correr o risco . Não apenas o de rever paisagens que me tinham deslumbrado , mas o de tentar demonstrar – para mim mesmo – que era possível criar em Angola um campo de melhor justiça e entendimento sociais , no modelo que eu achava seria certamente o futuro daquele País, com a independência conquistada por um processo que seria pacífico , pelo desejo que eu tinha visto ser o de todas aquelas sofridas populações .Talvez fosse ingenuidade minha, mas eu tinha 32 anos, nos últimos 10 tinha sido envolvido por um caldeirão de emoções , tinha sido beneficiado pela sorte , me sentia feliz e capaz de transmitir isso a uma terra e uma gente que precisavam de ajuda . A minha juventude me fazia otimista e eu sonhava como John Lennon , Imagine

Imagine there´s no heaven Imagine que não exista nenhum paraíso
It´s easy if you try É fácil se você tentar
No hell below us Nenhum inferno abaixo de nós
Above us only sky Sobre nós apenas o firmamento
Imagine all the people Imagine todas as pessoas
Living for today ... Vivendo pelo hoje ....

Imagine there´s no countries Imagine que não exista nenhum País
It isnt hard to do Não é dificil de fazer
Nothing to kill or die for Nada porque matar ou porque morrer
No religion too Nenhuma religião também
Imagine all the people Imagine todas as pessoas
Living life in peace …. Vivendo a vida em paz …..

Imagine no possessions Imagine nenhuma propriedade
I wonder if you can Eu me pergunto se você consegue
No need for greed or hunger Nenhuma necessidade de ganância ou fome
A brotherwood of men Uma fraternidade de homens
Imagine all the people Imagine todas as pessoas
Sharing all the world ….. Compartilhando o mundo todo ….

You may say I´m a dreamer Você talvez diga que sou um sonhador
But I´m not the only one Mas eu não sou o único
I hope some day you i´ll join us Espero que algum dia junte-se a nós And the world will live as one E o mundo viverá como um único


O estágio acabava , Monsieur S. ainda queria falar comigo em Bruxelas, só estaria no dia 10. Quase uma semana ainda ! Dia 6 de agosto de 1971, fazíamos 10 anos de casados – que mais magnífico presente a ambos do que passar esse dia em Paris ! Vamos ter tempo para conhecer a cidade , dali iremos depois para Bruxelas . Finalmente, conhecer Paris ! não aquela passagem em dia de neve, que não dava nem para olhar para a Torre Eiffel !

Paris não era só uma cidade ! Para mim era também uma revoada de recordações , desde criança Paris fazia parte da minha cultura – tinha começado a estudar francês aos 8 anos , na 3ª Classe da Escola Primária ,a história francesa se misturava com a da Europa, os livros , os filmes , as fotografias e notícias dos jornais me colocavam dentro dela, no meu pensamento já conhecia a cor e os sons daquela cidade , os cantos em que escritores , poetas, pintores e músicos tinham passado parte de suas vidas ; Paris era o local de Amor e de Liberdade , mais do que a França , toda a informação acumulada me trazia para Paris , ali era o centro imaginário dos meus sonhos de Felicidade , de Alegria de Viver .
O encanto de Paris já tinha - me possuído antes de eu entrar nela, de a olhar e sentir na realidade . Agora , conduzindo pelas ruas da cidade para encontrar um hotel , eu tinha a esperança de não ser desiludido !

Paris fica nas margens do Rio Sena , no centro da região chamada de Ile –de – France que inclui, além de Paris, outras cidades fascinantes , Versailles, Chartres . As origens de Paris estão na Ile de la Cité, uma ilha em forma de barco sobre o Sena, habitada por tribos celtas há mais de 2000 anos .
É para essa região que nos dirigimos , eu e a Tininha , roupas leves de turistas , máquina de filmar pronta para registrar todos os momentos, depois de deixarmos o carro num Hotel da Place de la République , de metrô até aqui e propósito de percorrermos a cidade a pé .
Estávamos em frente ao Quartel General da Polícia , recordação das aventuras durante a 2ª Guerra , ao lado o Quai des Orfèvres , das joalharias desde os tempos medievais, o Palais de Justice e a Saint- Chapelle , obra prima do estilo gótico , um milagre de luz através dos seus vitrais .
Passamos ao lado do Mercado das Flores e vamos na direção do Sena e avistamos , ela está lá ! , a magnífica Nôtre - Dame de Paris ! Exatamente como nos filmes , nas aventuras do Quasímodo de Victor Hugo ! Impossível não entrar, admirar o maravilhoso transepto , as rosáceas medievais de 13 metros de diâmetro nos seus extremos, subir as escadarias de 387 degraus até ao topo da torre norte e daí, fascinado , querendo filmar tudo, admirar a beleza da cidade que se espraia lá em baixo , o Sena nas curvas e pontes , e ter as famosas Gárgulas ali quase ao alcance da mão.

Passamos para a outra margem do Sena pela Pont au Double ( valor do pedágio cobrado na primitiva ponte – um « double » - ) , entramos no Quartier Latin , dominado pela Universidade de Sorbonne , associado a artistas , intelectuais e à vida boêmia , centro da Comuna de Paris na Revolução Francesa, uma alegre mistura de cafés, livrarias, butiques , com casas noturnas e cinemas . Por ali sentimos a presença de Ernest Hemingway , o autor do deslumbrante « O Velho e o Mar » , expatriado na Paris dos anos 20 com outros nomes famosos então principiantes como ele , a geração perdida , o grande amigo Scott Fitzgerald que lhe vaticinaria « você vai precisar de uma mulher a cada livro » .

Passamos pela Pequena Atenas , de restaurantes gregos , pela casa mais estreita de Paris, na Rue St. Séverin, onde morou o Abade Prévost , de Manon Lescaut e seguindo ao longo do Sena entramos em St. Germain – des - Prés, de ruas e cafés movimentados, dos novos filósofos, jovens pensadores radicais que emergiram das revoltas da década de 60 , das principais editoras , dos ricos e elegantes , com as suntuosas instalações de Yves St. Laurent - « A roupa mais bonita para vestir uma mulher são os braços do homem que ela ama . Para as que não tiveram essa felicidade , eu estou aqui » !
St. Germain – des – Prés é sinônimo da vida intelectual, concentrada em seus bares e cafés . Jean – Paul Sartre , Simone de Beauvoir, passearam pelo Boulevard St. Germain que eu agora pisava , talvez os pudesse « encontrar » sentados ali na Brasserie Lipp ou no Café de Flore , discutindo a filosofia do existencialismo !
O Boulevard tem mais de 3 Km de extensão , vai até aos edifícios do Ministério da Defesa e da Assembléia Nacional, no seu extremo final, antes de entrar na Pont de la Concorde , de novo atravessando o Sena , a margem direita, com a Place de la Concorde , Le Jardin des Tuileries , o Arc de Triomphe du Carrousel , para deparar agora com o Palais Royal e o Museu do Louvre ! Local de Reis, de Jeanne D´Arc, de Napoleão , do Cardeal Richelieu e dos magníficos D´Artagnan , Athos , Porthos e Aramis, figuras de Alexandre Dumas que esgrimiam ali perante os olhos da minha imaginação !

O Museu do Louvre é uma festa ! Só por si é uma viagem a Paris,vários dias. Entro , ansioso, para depois ir descobrindo, nas inúmeras salas, esculturas e quadros das Antiguidades Orientais, Egípcias, Gregas, Etruscas , Romanas , que enchiam os meus livros de História ! Subindo uma escadaria deparo fascinado com a Vitória Alada da Samotrácia e no fundo de um salão está lá a Mona Lisa , La Gioconda , de Leonardo da Vinci , 1504 ! Que deslumbramento, ela saltou dos meus livros para aquela parede, está ali, magnífica , para o encanto de centenas de turistas que querem fazer daquele momento uma eternidade .
A pintura e a escultura do Norte da Europa estão também ali, flamenga , holandesa, alemã e inglesa , e principalmente as francesas, espanholas e italianas . O acervo é vastíssimo , ocupa um andar térreo e mais dois andares.

Saímos pela Rue Rivoli , enormes arcadas com lojas de caros alfaiates e livrarias , em direção da Place de la Concorde ; o seu ponto central é o Obelisco Luxor , relíquia milenar trazida do Egito . Deparamos com a estátua equestre dourada de Jeanne D´Arc , subimos até ao Rond - Point , de castanheiras frondosas e calçadas enfeitadas de canteiros de flores coloridas , e depois descobrimos os Champs - Elysées , até à Place de L´Etoile e o seu Arc du Triomphe - estamos na avenida mais famosa de Paris, calçadas largas , cheia de cafés , cinemas e lojas , a casa de shows Le Lido ; hotéis e restaurantes de luxo e butiques de marcas famosas ocupam as ruas e avenidas que saiem dos Champs – Elysées .

O local é o centro turístico de Paris, e de uma elite do mundo que se mostra nos cafés, naqueles hotéis e restaurantes de luxo, belos carros nas portas, mulheres de casacos de pele, elegantíssimas, que deixam um rastro de beleza nas calçadas ; os homens vestem paletós de boas marcas , sapatos brilhando nos pés , postura de vaidosa dignidade , ar de despreocupação de quem se sente na sua casa, naquele lugar do alto dos problemas do Mundo , dos ricos e poderosos . Em toda a cidade de Paris esses aspetos de elegância se evidenciam , tornado –a um pouco vaidosa, coquete , às vezes esnobe ; mas acho que é isso que também marca a cidade , além da sua história , monumentos , igrejas e museus - o ar de elegância está no trato das pessoas , no atendimento dos recepcionistas dos hotéis, nas moças das lojas de departamentos, e , principalmente, na postura dos garçons que nos atendem nos restaurantes , a elegância parisiense se estende aos pratos da culinária que nos trazem e a que assistem comer orgulhosos da profissão , até ar de ofendidos se o cliente faz algo fora dos trâmites da etiqueta.

A noite não podia deixar de ser passada em Pigalle ! O Metrô nos deixava ali no Boulevard de Clichy , ao lado do Moulin Rouge , as suas pás vermelhas nos recordando de estórias só sussurradas , saídas mais da imaginação dos contadores do que da realidade . Tinha o Cancan

« A quadrilha era composta por meninas de 1,70 m de altura, vestindo roupas coloridas e esvoaçantes , com liberdade de movimentos , ao som de trombones e cornetas . A nova dança foi considerada um ritmo endiabrado, de contrapeso,flexibilidade, em passos extremos de sensualidade e acrobacias, em que as dançarinas, em seu traje fascinante, faziam perder a cabeça de toda a Paris.
Em Londres, em 1861, Charles Morton, inspirado pela quadrilha francesa , inventou o Cancan . O termo refere-se aos ruídos provocados pelos passos marcados da própria dança . Enquanto na Inglaterra a dança chocava os ingleses, que chegavam a condená - la como indecência ,na França o Cancan não parava de crescer, mantendo como quesitos as dançarinas de 1,70 m e a arte de mexer os quadris , levantar as saias e frou-frous, exibindo as jarreteiras, encantando e provocando o desejo no público entusiasmado »

Mas sobretudo uma multidão que fluía pela Avenida como um rio caudaloso , se espalhava pelas ruas que dela saíam , enchia sex - shops e casas de shows, sempre recreando os tempos de Toulouse Lautrec , na ciranda da Vida .
Na esquina da Place Pigalle , um restaurante nos atraía a atenção , pelas mesas na calçada , grandes sofás vermelhos no interior , charme de restaurante tradicional , sempre cheio . Jantamos, ostras , escargots, uma cerveja gelada e borbulhante em grande copo cônico , e ficamos ali olhando para a multidão que ocupava a praça e para as luzes de néon piscando nas casas de show em frente , uma delas de nome em letras gigantes e sugestivo – Eve .
Saímos do restaurante, vamos até à Place Blanche , meio empurrados , olhando para todas aquelas chamativas atrações, que aqui e ali tinham a propaganda de homens insistentes que nos empurravam para o interior , voltamos para a Place Pigalle e decidimos – vamos entrar na Eve ! Garrafa de champanhe na mesa , estamos então assistindo às atrações da casa, nada de anormal , shows de mágicos , strip teases , o tempo corre, acho que melhor voltarmos para casa , a Tininha quer continuar a assistir , mas é tarde , saímos , fora o movimento quase desapareceu, tomamos um táxi para o Hotel , Place de La République . Chegamos no Hotel , mal dá tempo para despir , deitar, o quarto roda desesperado , aquele champanhe era terrível !

Ali da Place Pigalle se subia para Montmartre, por estreitas e movimentadas ruas, bem íngremes, até um largo com um imenso carrousel e depois até à Place du Tertre , exposição de quadros , local de retratistas e circundada por casas com restaurantes que se estendiam com seus chapéus coloridos para dentro da praça . Saindo daqui se encontravam outras praças pequenas e belas, ruas sinuosas, pequenos terraços, pontos em que se tinham vistas espetaculares de Paris, e depois longas escadarias que nos levavam ao Sacré - Coeur

Sejam bem-vindos !

Peregrinos, visitantes, simples passantes :
aqui, Deus vos acolhe para dar sentido às vossas vidas.
aqui, Deus vos espera para vos oferecer todo o seu Amor !

Nenhuma Igreja como esta tanto me sensibiliza ! Dos fins do Século XIX, em estilo romano – bizantino , pedra branca , tem a forma de uma cruz grega, ornada de quatro cúpulas . A fachada principal tem portas em bronze com esculturas em relevo que ilustram cenas da Vida de Cristo ; sobre as portas , estátuas equestres de Jeanne D´Arc e S. Luís e no topo a Estátua de Cristo . No interior, o teto em abóbada do coro é decorado com o maior mosaico do Mundo, cobrindo uma superfície de 475 m² , um gigantesco mosaico bizantino de Cristo . A torre maior , terminada em cúpula oval , se eleva a 200 metros ( ponto mais alto de Paris depois da Torre Eiffel ) , da galeria de vitrais próximo ao seu topo pode - se ver todo o interior . O campanário tem 83 metros de altura e contem os sinos mais pesados do Mundo .
Das suas escadarias tem - se a melhor vista das suas cúpulas e torres e se enxerga Paris desdobrando - se lá em baixo . É o ponto de descanso dos turistas que sobem Montmartre para a admirar .

Descemos para a Place du Tertre , entramos no Espace Montmartre Salvador Dali – mais de 300 obras deste gênio surrealista , refletidas por luzes em movimento , ao fundo a voz pausada de Dali – e nos sentamos no La Mére Catherine , mesa num lado da praça , colorida , na sombra de um Sol que ilumina os quadros expostos pelos artistas .
É dia 6 de agosto de 1971 , fazemos 10 anos de casados ! Que um dia , velhinhos , possamos aqui retornar , saborear esta mesma Paz e agradecer a oportunidade da Vida !
Pedimos « trutas com amêndoas » , uma musica tocava suave num altofalante qualquer

Sous le ciel de Paris

S'envole une chanson
Elle est née d'aujourd'hui
Dans le coeur d'un garçon
Sous le ciel de Paris
Marchent les amoureux
Leur bonheur se construit
Sur une air fait pour eux
Sous le pont de Bercy
Un philosophe assis
Deux musiciens, quelques badauds
Puis des gens par milliers

Sous le ciel de Paris
Jusqu'au soir vont chanter
L'hymne d'un peuple épris
De sa vieille Cité
Prés de Notre-Dame
Parfois couve un drame
Oui, mais à Paname
Tout peut s'arranger
Quelques rayons du ciel d'été
L'accordéon d'un marinier
L'espoir fleurit
Au ciel de Paris

Sous le ciel de Paris
Coule un fleuve joyeux
Il endort dans la nuit
Les clochards et les gueux
Sous le ciel de Paris
Les oiseaux du Bon Dieu
Viennent du monde entier
Pour bavarder entre eux
Et le ciel de Paris
A son secret pour lui
Depuis vingt siècles il est épris
De notre île Saint-Louis

Quand elle lui sourit
Il met son habit bleu
Quand il pleut sur Paris
C'est qu'il est malheureux
Quand il est trop jaloux
De ses millions d'amants
Il fait gronder sur eux
Son tonnerre éclatant
Mais le ciel de Paris n'est pas longtemps
cruel...
Pour se faire pardonner, il offre un arc-en-
ciel...

Era Édith Piaf em « Sous le ciel de Paris » .

Podíamos ir a Bruxelas, ouvir algumas recomendações de Monsieur S., agradecer-lhe todas as atenções e seguir para Portugal , depois Angola.

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